Directamente do Rio de Janeiro:
À parte dos malvados teclados brasileiros, onde uma pessoa se vê grega para encontrar os símbolos, vir ao Brasil é sempre um prazer. Não de todo usufruído graças ao tempo que se perde, para tentar escrever de forma perceptível no blog.
As Noites Cariocas, lugar de tertúlia dos intelectuais cariocas nos anos 60 reabriu as suas portas. A tertúlia terminou, mas o lugar está lá, no Pão de Açúcar, sobre a baía e com vista para Nosso Senhor, que suponho se ressente de estar de costas para a animação da discoteca. Mas o Senhor é omnipotente, terá feito orelhas moucas ao tema do 'heavy metal do Senhor' que o Baleiro tratou de se fazer ouvir até ao Leblon, mas certamente presenciou o resto do concerto. O Senhor e alguns 500 cariocas, bem como portugueses (em menor quantidade, mas não menos entusiasmo).
A sociedade carioca (era alguma, pois estavam a ser fotografados à entrada do recinto) e que este humilde gato ignora e desconhece, apiriquitou-se toda para aplaudir o músico. Enquanto o Baleiro cantava 'você trais a lenha pru meu fogo àcendê', eles discutiam entusiasticamente o que era sexo e o que era travesseiro. Nada que em Lisboa não se fizesse, mas é para mim um sacrilégio perturbar as actuações do Baleiro, principalmente a primeira a que eu assistia.
Considerações à parte, o Noites Cariocas oferece uma vista deslumbrante, com bancos espalhados pelo espaço e almofadões à moda do Lux. Já a discoteca em si, não é muito grande, mas está muito bem arejada. A música toca à brasileira (uns decibéis acima do que estamos habituados) mas é uma verdadeira experiência passar uma noite, a ouvir música e ver o Senhor de braços abertos para o mundo, os aviões a aterrarem, a baía, brilhante, iluminada e os morros cobertos de luzinhas, como uma árvore de Natal.
Já a chegada à discoteca é mais aventureira, uma vez que tem que se tomar o bonde (aquele que se toma quando se visita o Pão de Açúcar) e dado o bondinho ser todo envidraçado, parece que estamos prestes a experimentar a famosa tirolesa, uma vez que nos lançamos no espaço. Apesar de estarmos com os pés bem assentes no chão do transfer, a verdade é que não se pensa tanto assim, quando vemos o chão a alguns metros abaixo de nós.
Quanto ao Baleiro, o inédito que tocou nesta noite, foi um brinde, um regalo e um tesouro. Hoje não consigo ronronar nem miar. Dei cabo da garganta.
sábado, outubro 23, 2004
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