segunda-feira, março 20, 2006

Literatura de bordo

Há uns anos atrás, o fulano que lia nos transportes públicos era uma espécie de dandy intelectual, com tendência ao exebicionismo. Ler nos transportes públicos! Bah!

Nos dias que correm, já é bastante usual o português ler nos transportes públicos. Em podendo, senta-se, tira o seu livrinho e começa a ler, contente e alheado do que o rodeia.

Claro que há aqueles que estão sempre um passo à frente. Se a maioria lê o livrinho da moda, em português, os que estão um passo à frente já olham com desprezo para, por exemplo, o "anjos e demónios", ou qualquer outra obra de Dan Brown, e exibem, quando mais não seja, a última obra do escritor, em inglês, edição que ainda não existe em Portugal, ou outra obra qualquer numa língua estrangeira.

O que se está a tornar uma moda, no entanto, é o livro forrado. De repente, as pessoas trazem na sua malinha o seu exemplar, lindamente forrado, em papel de embrulho, de alguma cor fascinante, qual livro da escola.

Para poupar o livro, sem dúvida, mas nesta mente mal formada, surge sempre aquela ideia de que a pessoa que forra o livro, não quer que se saiba o que estão a ler. É sempre um bocadinho embaraçoso, na sala de literatura dos transportes públicos, em que até nem fica mal ler o Harry Potter, aparecer, por exemplo, com um livro da Danielle Steele, ou da Susana Tamaro. É-se logo excluído da comunidade.

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