segunda-feira, março 15, 2004

A Balbúrdia do Sul

Se o Presidente da Câmara de Lisboa, Pedro Santana Lopes, parece ter falhado no seu plano de devolver Lisboa aos lisboetas, ou pelo menos de atrair pessoas à cidade, até certo ponto foi bem sucedido. Aquele túnel não vai trazer apenas as pessoas à cidade, mas muito mais carros.
O antigo presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, que criou tantos parquímetros, deve estar a considerar, agora, a oportunidade que perdeu... mais carros, mais estacionamentos, mais dinheiro...
Infelizmente, trazer dinheiro à Câmara, ou a quem quiser, não vai ser obra fácil. Muito pelo contrário. Neste momento, e num verdadeiro espírito democrático, Pedro Santana Lopes parece ter achado que já que os carros não andam, pois então as pessoas não andarão. E assim se fez.
Hoje a Praça do Marquês de Pombal é um verdadeiro labirinto de caminhos e desvios. Para quem não tem muito que fazer, nomeadamente os turistas que vêm à descoberta, acredito que seja dos passeios mais entusiásticos, tentar atravessar a Praça Marquês de Pombal, hoje, e sabe-se lá até quando.
À boa maneira portuguesa, e nem de outra forma isto teria piada, os antigos caminhos estão cortados e vêm-se umas placas amarelas que têm escrito 'desvio', ela está lá... a placa, entenda-se... porque o desvio vai dar a um caminho sem saída. Em vez de indicar qual o caminho mais rápido para uma pessoa se mover, a sinalização limita-se a informar que existe um desvio. Onde vai dar, como vai dar, e se interessa ao peão, isso é um assunto que a ninguém diz respeito.
Ao pobre Marquês foi-lhe dado um papel muito sectarista, pois anda espalhado pela cidade, em folclóricos cartazes, indicando aos automobolistas (num tom deveras autoritário) qual o melhor caminho a escolher, ao passo que os alegre peões, que chegam à Praça Marquês de Pombal, e que àquelas horas da manhã não o devem estar muito, têm de adivinhar por sua própria conta qual o caminho a tomar.
E se dantes eram só os carros que ficavam presos naquela rotunda, hoje são todos. Um alegre festival de gente, que passa por cima de barreiras de cimento, que procura uma orientação e não sabe para onde se virar.
Melhor ainda é o facto de algumas paragens de autocarro terem sido mudadas para o outro lado da praça e nada ter sido informado... nem que as paragens se mudaram, nem para onde. O que leva a considerar um milagre, pois tal só se pode ter dado pela intervenção divina, que nunca explica as suas acções... ao contrário dos bons responsáveis dos nossos transportes públicos.
Durante anos, Lisboa foi um estaleiro. Este ano, Lisboa é uma confusão.
A preocupação com os automobilistas não é a mais aconselhável, nem sequer é a melhor solução. O túnel vai servir, essencialmente, quem vive fora de Lisboa. E quem vive fora da cidade, não vota nela.
Quem vive na cidade, e principalmente na zona do Marquês de Pombal, tem de levar diariamente com barulho, poeira, pessoas irritadas, e viver uma confusão permanente. E se calhar... esses votam na cidade... e se calhar... não precisam de um túnel para nada.

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