sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Orgulho Nacional

O professor Marcelo Rebelo de Sousa falava o outro dia em fazer alguma coisa pela auto-estima portuguesa. Saber o que fazem os portugueses de bom, para nos orgulharmos do país que temos.
como podemos nós orgulharmo-nos do país que temos? da gente que somos? Durante anos, andámos a gramar com a malvada filosofia do miserabilismo: a casinha humilde e pobre, mas feliz, o povinho pobre, analfabeto, humilde, mas feliz. A casa portuguesa concerteza, um humilde primeiro andar a contar vindo do céu, modesto, mas feliz...
e por outro lado, andava a nata da sociedade a divertir-se à grande, em sumptuosas festas, vidas, barcos e luxos. e o povinho a achar que não tinha sido fadado para a mesma sorte.
um dia, enchem-nos a vida com revistas onde só se fala da vida dos ricos, cheias de fotos coloridas, ficamos a saber quem se divorciou de quem, porquê, com quem vai casar a seguir, porquê... dão-nos a oportunidade de ficar célebre em cerca de três meses. E de ter direito a opinar sobre tudo e mais alguma coisa.
Que diabo! Neste momento, nem sequer sabemos o que é o orgulho. Podia garantir que agora, exactamente agora, andamos à procura de uma identidade nacional.
E enquanto alguns saudosistas procuram o passado, criticam o presente, temem o futuro, enquanto alguns desdenham a realidade nacional pela pobreza espiritual que ela representa, enquanto alguns fecham os olhos e ignoram, enquanto alguns se esforçam para que essa realidade se mantenha assim, à laia de circo romano, o povo continua alegremente a sua peregrinação pelo vazio. Pela fama fácil de cinco minutos de audiência, pelo retrato na revista, pela presença nos talk-shows. É simples. É quase barato. Só não dá é milhões... e as empresas vão fechando... as famílias vão indo para a fome... o déficit será alcançado um dia, sem dúvida. Mas a que preço? E quem é que o vai pagar?
Já diria um cantor famoso: 'aqui na terra estão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock n' roll, uns dias chove, noutros dias bate sol, mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta... ', por aqui está mais colorida... porque já não há televisões a preto e branco.

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