O Sousa era um homem pacato, de rotunda barriga, ralos cabelos, e grande sentido de humor. Abandonara o seu sonho de professor de matemática para se dedicar à função pública. Casara e procriara. E aos poucos e poucos a sua vida tornara-se tão bolorenta como os arquivos da repartição.
Até ao dia em que virou os 53. Não sabia bem porquê, mas decidiu comemorar essa data de forma especial. Diferente.
- Laidinha, disse ele à mulher, vamos fazer alguma coisa para os meus anos?
- E o que Luís?
- Não sei, Laidinha. Vamos faltar ao trabalho, e passar o fim de semana fora. Metermo-nos num comboio qualquer e partir à aventura.
- E os miudos ficam com quem?
- Eles já têm idade para tomarem conta deles próprios.
- Oh Luís, tem juizo! Eles são lá capazes de tomar conta deles próprios! Vamos almoçar aí a qualquer sítio no sábado. Depois damos um passeio. - O Sousa encolheu os ombro e acomodou-se.
Na véspera de aniversário, sentou-se no sofá, com o rádio a tocar música baixinho. A Laidinha dormia e os miudos também.
Ao soar da meia noite, o Sousa tomou uma decisão. Abriu o armário e tirou de lá a garrafa de whisky que lhe tinham dado pelo aniversário de havia cinco anos. Abriu a garrafa. Distribuiu um copo por cada membro da família. Ninguém estava ali para brindar com ele. Mas os quatro elefantes cor de rosa com quem ele fez a festa mais tarde, garantiram-lhe que foi a melhor a que alguma vez tinham assistido.
domingo, fevereiro 13, 2005
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