terça-feira, julho 27, 2004

Somerset Maugham

Example
in Encyclopaedia Britannica Online

Voltei a pegar no Somerset Maugham. Há uns anos li muito do que ele escreveu, falhando a 'Servidão Humana' por achar muito cedo (eu tinha 20 anos). Disseram-me também na altura que gostar de WSM com essa idade era sinal de se ser uma pessoa céptica e que não tinha idade para isso... mas se na altura eu já o era, não era por causa dele.

Também falhei o 'Liza, a Pecadora', mas porque não o encontrei, quando o encontrei não tinha dinheiro para o comprar e depois desinteressei-me.

Poucos anos depois, voltei a ler um dos seus livros, e aborreci-me de morte. Achei-o demasiado repetitivo.

Agora voltei a pegar nele. E a sentir o mesmo prazer de há anos atrás.

Somerset Maugham é vaidoso, arrogante, cínico, mordaz, cáustico. Características muito bem equilibradas numa mesma personalidade, sendo que em vez de se tornar uma criatura insuportável, muito pelo contrário, é um tipo muito divertido (nos seus livros, entenda-se... porque se o conhecesse pessoalmente, acredito que não o iria suportar).

Ao mesmo tempo consegue ter uma profunda compreensão pelas falhas humanas. E mostra que todos somos fracos em algum ponto. Que todos erramos e que por essa razão, devemos medir bem as nossas acusações.

Claro, que também demonstra uma preferência descarada pelos que mais falhas têm, como se quisesse chocar quem o lê. Como uma criança caprichosa. Mas é divertido, tem um sentido de humor com que me identifico bastante. E por outro lado, parece-me que na sua ânsia de se desprender daquilo que o emociona, ou que parece estar a prendê-lo, procura a saída da gargalhada, como se o rir o ajudasse a soltar-se. E pela via cómica, consegue dar grandes lições, parodiar estereotipos, e fazer-nos ter compaixão por figuras fracas, patéticas, mas de bom fundo.

Mas é ao mesmo tempo dono de uma lucidez única, e de raciocínios sublimes: 'Sinto-me, muitas vezes, cansado de mim mesmo e tenho a impressão de que, viajando, poderei enriquecer a minha personalidade e assim mudar um pouco', escreve no 'Cavalheiro de Salão' (escolho esta, e este livro, porque foi precisamente no que peguei...)

Acredito que está muito seriamente a voltar a ser um dos meus escritores preferidos.


Alguma informação sobre WSM na British Library

E algumas citações em The Quotations Page

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