O primeiro ruído que se ouviu era quase imperceptível. Nada mais que um ruído. Quase como se um gigante se aproximasse naquela rua deserta e pouco iluminada, em passo de jogging.
Pouco depois, mas não tão pouco como isso, o jogging foi dando lugar a uma ideia de batida, acompanhada por um som imperceptível, palavras difusas, alguém que falava.
Na rua deserta, pouco iluminada, não fosse aquele som, nada mais se ouviria.
A pouco e pouco o som foi-se tornando numa melodia animada, mas ainda assim não tão perceptível como isso.
No fundo da rua, uma luz começou a aproximar-se, ganhava a forma de uma árvore de natal ambulante, com luzes melodiosas, de tons amarelos, laranjas, encarnados e o som tornou-se numa melodia de laivos africanos e orientais, conjugadas com uma batida ocidental, acompanhada por várias vozes que cantavam.
Aos poucos, a árvore ganhou a forma de um autocarro de três andares. O último, descoberto, trazia uma imensa aparelhagem, e inúmera gente a dançar.
A rapariga estranhou como tanto barulho não trazia ninguém às janelas dos prédios. Mas por isso mesmo, imaginou que ali já era hábito.
Á medida que o autocarro se aproximou, tornou-se perceptível a sua decoração de cores e desenhos psicadélicos, as pessoas que dançavam e conversavam alegremente nos três andares. A voz masculina que troava.
A rapariga afastou-se um pouco no passeio, para dar passagem ao veículo, mas ele parou, ensurdecedor, à sua frente. A porta abriu-se, e um homem, estranhamente vestido, numa mistura de hip-hop psicadélico com hippy dos anos 70, apareceu, com um microfone na mão. A música não parou, mas pareceu baixar vários decibéis.
Ele sorriu, por detrás dos imensos óculos escuros, de aros de madeira, e estendeu a mão à rapariga.
- Vem, disse ele ao microfone, ecoando a sua voz por toda a rua, aqui não vais precisar disso.
Enquanto o autocarro se afastava, animado e colorido, noite fora, o único sinal que ficou da rapariga foi a sua mala.
sexta-feira, agosto 26, 2005
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