sexta-feira, agosto 26, 2005

Um autocarro chamado Éden

O primeiro ruído que se ouviu era quase imperceptível. Nada mais que um ruído. Quase como se um gigante se aproximasse naquela rua deserta e pouco iluminada, em passo de jogging.
Pouco depois, mas não tão pouco como isso, o jogging foi dando lugar a uma ideia de batida, acompanhada por um som imperceptível, palavras difusas, alguém que falava.
Na rua deserta, pouco iluminada, não fosse aquele som, nada mais se ouviria.
A pouco e pouco o som foi-se tornando numa melodia animada, mas ainda assim não tão perceptível como isso.
No fundo da rua, uma luz começou a aproximar-se, ganhava a forma de uma árvore de natal ambulante, com luzes melodiosas, de tons amarelos, laranjas, encarnados e o som tornou-se numa melodia de laivos africanos e orientais, conjugadas com uma batida ocidental, acompanhada por várias vozes que cantavam.
Aos poucos, a árvore ganhou a forma de um autocarro de três andares. O último, descoberto, trazia uma imensa aparelhagem, e inúmera gente a dançar.
A rapariga estranhou como tanto barulho não trazia ninguém às janelas dos prédios. Mas por isso mesmo, imaginou que ali já era hábito.
Á medida que o autocarro se aproximou, tornou-se perceptível a sua decoração de cores e desenhos psicadélicos, as pessoas que dançavam e conversavam alegremente nos três andares. A voz masculina que troava.
A rapariga afastou-se um pouco no passeio, para dar passagem ao veículo, mas ele parou, ensurdecedor, à sua frente. A porta abriu-se, e um homem, estranhamente vestido, numa mistura de hip-hop psicadélico com hippy dos anos 70, apareceu, com um microfone na mão. A música não parou, mas pareceu baixar vários decibéis.
Ele sorriu, por detrás dos imensos óculos escuros, de aros de madeira, e estendeu a mão à rapariga.
- Vem, disse ele ao microfone, ecoando a sua voz por toda a rua, aqui não vais precisar disso.
Enquanto o autocarro se afastava, animado e colorido, noite fora, o único sinal que ficou da rapariga foi a sua mala.

terça-feira, agosto 23, 2005

A Globalização

O que mais me irrita na globalização é tudo passar a reger-se por um cânone. Nas grandes superfícies comerciais, não se encontram senão as marcas mais vendidas. Quando se quer procurar um artigo diferente, ele pura e simplesmente não existe. Não faz parte do cânone. Não é suposto existir.
A possibilidade de qualquer loja mais pequena poder ter esse artigo que procuramos acaba por ser maior, se:

1- a loja mais pequena conseguir sobreviver ao violento e destrutor avanço das grandes superfícies comerciais.

2 - e mesmo sobrevivente não se tenha rendido ao fenómeno.

Outra situação com que me deparo é que até nas grandes superfícies comerciais praticam preços cada vez mais altos.

Moral da história: Não só me obrigam a consumir aquilo que eu não quero, como me obrigam a pagar cada vez mais por isso.

É ainda mais irritante reparar como as pessoas se vergam e aceitam estas novas leis de consumo, sem procurarem alternativas, despertarem para outras realidades. Ás vezes parecemos todos personagens do Matrix, em que resistimos todos a tomar a pílula azul, não nos questionamos, não queremos saber.

Não sei se a Internet não acaba por funcionar como um escape. Através da troca de informação, talvez consiga habver alternativas a toda esta "standardização" da realidade.

Mas é preciso que as pessoas acordem.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Aqui há Gato

O Gato lambeu as botas e arrumou-as no armário. Enquanto o fazia, começou a enumerar, por uma razão desconhecida, os gatos de que já ouvira falar.

Gatos de botas, gatos borralheiros, gatos malteses, pianistas e bilingues, gatos siameses.

Gatos com sete vidas e gatos que morreram de curiosidade.

Gatos pretos, gatos brancos e gatos pardos.

Gatos escondidos, línguas de gato, gatos assanhados.

Gatos em telhado de zinco quente, gatos em saca.

Gatos pingados, gatos escaldados.

Gatos que chovem, gatos divinos.

E gatos ao sol. Sorridentes e preguiçosos, em tardes de Verão a olhar as nuvens.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Conversas de Alberto Caeiro

Gosto de ficar a contemplar as nuvens.
As formas que criam, rostos disformes, aqui um corpo demasiado longo que prolonga um braço a terminar finalmente numa garra.
Ali uma mistura de bico de águia, emoldurados por olhos cavernosos e um riso que me parece maléfico.
São formas que parecem fantasmagóricas, vivas, cheias de poder.
Que diríamos nós se nos confrontássemos diariamente com gente assim?
Talvez passássemos a ter outra noção de belo...

Uma questão de gosto

Nem sempre ando ao sabor da corrente... dos outros.

Creio que muitas vezes é exactamente ao contrário.

Quando digo que o "WIld Mood Swings" é dos trabalhos dos The Cure, o que eu prefiro, não são raros os olhares de lado que recebo, como se tivesse acabado de dizer uma heresia.

Fazer o que...?

The Cure - Wild Mood Swings, in Wikipedia.org

segunda-feira, agosto 01, 2005

Messenger

Se há frase que me faz alguma confusão no messenger, é quando quero apagar um contacto, me aparecer a mensagem que diz:

"Está preparado para eliminar esta pessoa?"

Boa pergunta!